Tenho escrito sobre a 4a Revolução Industrial, também conhecida como a 3a Revolução Tecnológica. Mas, afinal,qual a grande tecnologia que está por trás de tudo isso? Nas revoluções anteriores tivemos as máquinas à vapor, a eletricidade e, por último, a eletrônica, como as tecnologias disruptivas que causaram grande impacto na humanidade. Alguns afirmam que não se trata de uma revolução tecnológica, apenas de uma evolução. No entanto, evoluções tendem a trazer ganhos incrementais e estamos presenciando um movimento de disrupções, longe de serem incrementais, típicas de uma revolução.
A revolução está acontecendo pelos novos modelos de negócios os quais utilizam tecnologias já existentes, de uma forma inédita ou no momento certo.
Uber, AirBnB, Waze, Netflix. Nenhum destes negócios explodiram a partir de tecnologias mas sim de modelos de negócios disruptivos. Não há nada a ser patenteado, todos utilizaram tecnologias que já estavam disponíveis. O mérito foi ter conseguido entender e atender o cliente, mais rápido ou melhor que outras empresas, inclusive as líderes de mercado. A TomTom, por exemplo, tinha tudo para continuar líder no mercado de navegação. Com a popularização dos smartphones, imaginou que vender caro seu aplicativo de navegação, seria o suficiente. Não percebeu que os smartphones eram dispositivos sensorizados que poderiam trazer um experiência muito superior ao usuário. Em poucas semanas, o Waze tomou conta do mercado já que incorporava a análise computacional das melhores rotas devido ao imenso número de sensores adicionados à sua base de dados.
Note que nossa vida pessoal mudou muito nos últimos dez anos, com a chegada dos smartphones. O mesmo não aconteceu com os negócios. E é sobre essa revolução que eu tenho falado. Nem as rotinas administrativas foram ainda totalmente digitalizadas, apesar de já convivermos há 25 anos com PCs: a portaria da empresa continua anotando os dados em um formulário impresso em A4, a contabilidade continua recebendo documentos impressos com observações por escrito, os pedidos de compra ainda são transacionados através de pessoas que tem que reprocessar as informações, as ordens de produção ainda são impressas e a lista não tem fim.
Um dos novos modelos de negócio que vem tendo rápida expansão devido a facilidade de adesão é a servitização. O cliente deixa de comprar um ativo, um bem, e começa a usá-lo, por demanda. Faz todo o sentido, não é mesmo? Se precisamos fazer alguns furos na parede durante toda a vida, para que comprar uma furadeira? Se precisamos apenas nos deslocar por poucos quilômetros por dia, continua sendo importante possuir um carro? Isso promove a economia compartilhada na qual usufruímos melhor ativos que já foram produzidos.
No entanto, com menor demanda por veículos, precisa-se fundir e tratar termicamente tanto metal? E mesmo os carros que continuarem sendo fabricados para repor a frota, terão tantas peças fundidas e tratadas?
Conheci recentemente uma empresa que conecta demanda à oferta de usinagem através de uma plataforma digital, modelo denominado manufatura compartilhada. Com isso, as máquinas já existentes e eventualmente ociosas podem ser melhores aproveitadas, trazendo ganhos para todos os envolvidos. Com isso, como fica o mercado de máquinas de usinagem? E as fundições que abastecem os fabricantes destas máquinas, precisarão fundir tanto? E com menor volume e a evolução da manufatura aditiva (impressão 3D), peças impressas não poderão substituir as fundidas, como já acontece com as peças de carros esportivos antigos na Europa?
Agora, já parou para analisar a organização em que trabalha? Está mais para TomTom ou para Waze? Estaria imune à disrupção dos negócios?
A nova ordem não é maior produção e sim, melhor uso. Portanto, me parece que todos os caminhos estão nos levando a uma sociedade mais sustentável, com reduções significativas na demanda de recursos naturais e energia. E, por isso, viva a Revolução!